As empresas familiares podem encontrar na crise financeira internacional uma oportunidade para superarem seus concorrentes. Renato Bernhoeft, fundador e presidente do conselho de sócios da Höft Consultoria, especializada em organizações familiares, defende que as companhias do gênero podem aproveitar suas peculiaridades para contornar as dificuldades trazidas pela turbulência internacional e sobreviver.
"As empresas familiares norte-americanas saíram melhor do período de instabilidade após os atentados de 11 de Setembro do que aquelas administradas por executivos não familiares", exemplifica ele, que ontem participou do Tá na Mesa, reunião-almoço da Federasul. Ele ministrou a palestra A crise como oportunidade para a empresa familiar.
Um dos fatores que contribuem para esta vantagem da companhia familiar é a agilidade do patriarca para tomar decisões durante crises - diferentemente das demais organizações, nas quais as decisões passam por muitos setores e podem acabar vindo tarde demais ou com seu conteúdo modificado. Além disso, um membro da família, ao pensar e planejar o futuro da empresa, leva em conta seu histórico e as perspectivas no longo prazo. Não há, portanto, o risco de tomadores de decisão baterem o martelo pensando em seus bônus imediatos, mesmo que suas escolhas não sejam as melhores quando se enxerga o longo prazo.
"O membro da família também tem o poder de contagiar, com seu discurso e suas ações, seus funcionários para se unirem e superarem um momento de crise", lembra o especialista. Os familiares acionistas também tendem a unir forças em períodos de dificuldades, tendo em vista que seu futuro depende disso. Estas peculiaridades, por sinal, fazem com que as ações das empresas familiares tenham rendimento médio maior do que as outras companhias nos mercados internacionais, de acordo com estudos em países desenvolvidos.
Não por acaso, segundo o especialista, diversas empresas familiares tiveram sua gestão retomada por membros do clã durante a turbulência dos mercados. "No Brasil, WTorre e Schincariol viram seus quadros de decisão voltarem a ser ocupados por membros da família", diz Bernhoeft. Fora do Brasil, esta atitude foi tomada pela Toyota e Ford - justamente duas das montadoras que têm enfrentado com algum sucesso a crise.